MARTIM SOÁREZ
( Portugal )
Martim Soárez de Baguim, Trovador medieval português, documentado no período compreendido entre 1220 e 1260.
Natural de Riba de Lima, como nos indica a rubrica que acompanha uma das suas composições, região onde terá nascido nos inícios do século XIII, e onde testemunha um documento na primeira data referida, Martim Soares pertenceria certamente a uma família da pequena nobreza, eventualmente os Ribeiro, como sugere José Augusto Pizarro1. Embora não haja dados seguros sobre o seu percurso, um Martim Soares, trobador, seguramente o nosso autor, surge como testemunha num documento de 1241, uma venda feita por um Martim Garcia e sua mulher ao mosteiro de Santa Cruz. Baseado neste documento, crê Resende de Oliveira2 que Martim Soares teria sido vassalo de Martim Garcia de Parada, importante personagem da corte de D. Sancho II, cujo partido toma durante a guerra civil que conduziu à sua deposição (1245-1247). O trovador poderá, pois, segundo este investigador, tê-lo acompanhado para Castela, juntamente com o rei deposto, e por lá deve ter permanecido durante uns anos, como as suas ligações aos trovadores e jograis do círculo de Afonso X atestam. Na verdade, se a permanência de Martim Soares em Castela parece indiscutível, diga-se, no entanto, que uma das suas cantigas, claramente composta antes da tomada cristã de Jaén (1246), parece indicar que a saída do trovador para o reino vizinho se terá processado já antes da guerra civil portuguesa.
Seja como for, em época indeterminada, talvez por volta de 1256, regressou a Portugal, onde, antes de 1262, fez uma importante doação de bens em Rio Maior ao Mosteiro de Alcobaça. É possível que tenha falecido também antes desta data, talvez mesmo nos anos finais da década anterior.
Foi casado com Maria Soares, dona de Santarém, região onde parece ter-se fixado. Os Livros de Linhagens, onde o seu nome não consta, referem que João Martins, seu filho, documentado na região, foi igualmente trovador (LL30G4). Se não há confusão com o pai, as composições de João Martins não chegaram até nós. Acrescente-se, no entanto, que João Martins parece ter sido próximo do magnate e trovador D. João Peres de Aboim (como mostram alguns documentos citados por Azevedo3), o que talvez indique que Martim Soares o teria sido igualmente.
Acrescente-se ainda que a rubrica atributiva das composições do trovador Garcia Soares o referem como sendo irmão de Martim Soares, parentesco que Resende de Oliveira põe em dúvida (pela posição que as cantigas de Garcia Soares ocupam nos apógrafos italianos). Pizarro, no entanto, na nota já citada, crê possível esse parentesco, se ambos pertencessem efetivamente à linhagem dos Ribeiro.
Biografia : https://www.escritas.org/pt/martim-soares
LIVRO DOS POEMAS. LIVRO DOS SONETOS. LIVRO DO CORPO. LIVRO DOS DESAFOROS. LIVRO DAS CORTESÃES. LIVRO DOS BICHOS.. Org. Sergio Faraco. Porto Alegre: L.P. & M., 2009. 624 p ISBN 978-85-254-1839-5 Ex. bibl. Antonio Miranda
FOI UM DIA LOPO JOGRAL
Foi um dia Lopo jogral
a casa de um infanção** cantar
e mandou-lhe ele por dom***
dar três coices na garganta,
e foi-lhe escasso, a meu cuidar,****
segundo como ele canta.
Escasso foi o infanção
em seus coices partir de então,
pois***** não deu a Lopo então
mais de três em sua garganta,
e mais merecia o jogralão,******
segundo como ele canta.
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** Fidalgo de segunda linha.
*** Deu-lhe em pagamento.
**** No original, ca.
***** No original, jograron , mau jogral.
VIEIRA, Yara Frateschi. POESIA MEDIEVAL. LITERATURA PORTUGUESA. São Paulo: Global, 1987. 208 p. (Coleção literatura em perspectiva. Série Portuguesa) Ex. bibl. Antonio Miranda
No mundo non me sei parelha,
mentre me for como me vai,
ca já moiro por vós — e ai
mia senhor branca e vermelha,
queredes que vos retraia
quando vos eu vi em saia!
Mao dia me levantei,
que vos entom nom vi fea!
E, mia senhor, des aquel di´, ai!
me foi a mi muin mal,
e vós, filha de don Paai
Moniz, e bem voz semelha
d´haver eu por vós garvaia, Var. d´haver eu poer-vos garvaia?
pois eu, minha senhor, d´alfaia
nunca de vós houve nem hei
valia d´ua correa.
(3) Senhor fremosa, pois me nom queredes
crer a coita ´m que me tem amor,
por meu mal é qu tem bem parecedes;
e por meu mal vos filhei por senhor;
e por meu mal tem muito bem oí,
dizer de vós! E por meu mal vos vi,
pois meu mal é quanto bem vós havedes!
E pois vos vós da coaita membrades,
nem do afam que m´amor faz prender,
por meu mal vivo mais ca vós ciudades,
e por meu mal me fezo Deus nacer!
E por meu mal nom morri u cuidei
como vos viss´; e por meu mal fiquei
vivo, pois vós por meu mal rem nom dades!
E d´esta coita em que me vós T~eedes,
em que hoj´eu vivo tam sem sabor,
que farei eu, pois mi-a vós non credes?
que farei eu, cativo pecador?
que farei eu, vivendo sempre assi?
que farei eu, que mal dia naci?
que farei eu, pois me vós nom valedes?
E pois que Deus non quer que me vallades,
nem (me) queirades mia coita crer,
que farei eu? por D eus, que mi-o digades!
que farei eu, se logo nom morrer?
que farei eu, se mais a viver hei?
que farei eu, que conselho i nom hei?
que farei eu, que vós desamparades?
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Página publicada em janeiro de 2023
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Página publicada em agosto de 2022
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